Reflexões sobre a vida —Metades

Nos caminhos da vida, nos tornamos metade. Metade para caber em espaços menores. Menos sofrimento, é verdade, mas também menos vida e menos amor. Essa metade se forma pela distância que criamos entre nós e os outros, entre nós e a própria existência. Quem se fragmenta, anestesia-se para se despedir do que o consome.

Deixamos de sentir a urgência de existir, e pouco nos devora além da nossa própria metade. Ignoramos as alturas do amor, não mais conhecendo a dor da queda, tampouco as nossas liberdades.

Em nossa metade, perdemos as alturas do amor. Não mais sentimos o vento nos cabelos enquanto caímos, nem a euforia de voar. A vida se torna uma planície monótona, onde a urgência de existir se dissipa. Nossas liberdades são reduzidas a escolhas limitadas, e o que nos devora é apenas a sombra daquilo que poderíamos ser.
Mas há uma beleza na metade. Ela nos protege das quedas mais dolorosas, dos abismos mais profundos. Somos como pássaros com asas cortadas, mas também somos menos vulneráveis. A dor é amortecida, e a solidão, suportável.

No entanto, às vezes, anseio pelas asas inteiras. Pelas quedas vertiginosas e pelos voos desenfreados. Quem sabe o que encontraríamos lá em cima? Talvez o amor verdadeiro, a paixão avassaladora, ou simplesmente a sensação de estar vivo.

Assim, seguimos pela estrada da metade, equilibrando-nos entre o conforto e a curiosidade. E quem sabe, um dia, possamos nos tornar inteiros novamente.

©️ Beatriz Esmer

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